terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Noite dessas eu te vi

Noite dessas eu te vi.

Tenho que admitir que estive te procurando em todos os cantos. Olhos sempre atentos pra ver se você cruzava meu caminho. Na próxima esquina, no ágile prata que parou ao lado no sinal, no corredor das massas no mercado, na grama do parque ou no lago da universidade. Meus olhos e meu coração estavam sempre a escanear os ambientes à procura de você.

Te procurei por toda parte sim. Mas não com o objetivo de me aproximar, dizer olá e perguntar como anda a vida sem mim? Te procurei por toda parte como o garotinho magrela da 3° série foge do brutamontes do 6° ano que prometeu com sangue nos olhos: _te pego na saída nanico!!!_ Tenho olhado atentamente pra todos os lados quando coloco os pés pra fora de casa, como o coelho que sai da toca em busca de alimento e sabe que a espreita, em algum canto lá fora está o lobo, faminto e raivoso a lhe caçar.

É estranho procurar e não querer encontrar.

Quando se procura algo com o intuito de ser bem sucedido, se você acha, se realiza. Se não encontra, se frustra. Ou seja, é simples, é a ordem natural das coisas. Procurar e não querer achar é diferente, é pior. Porque não há solução que contente. Ao procurar e não desejar encontrar alguém, fica sempre a sensação que o pior está por vir. Se não encontrou hoje, amanhã pode ser o dia, ou depois, ou a próxima esquina, o outro ágile, no corredor dos chocolates...

E então a catástrofe premeditada acontece.

..ao dobrar a esquina cantarolando aquela música brega que você ouve todo dia na rádio  _"Sabe aquela menina sentada ali? Com um olhar desconfiado, tão inocente Eu já fui doente naquela mulher"_ ela está ali parada colocando moedas no parquímetro. O passo é interrompido subitamente de tal forma que a senhora que vem caminhando atrás de você não tem tempo de desviar e esbarra na sua mochila, esbraveja algo e segue andando. Pronto. Essa quebra da rotina desordenada na calçada movimentada do centro foi suficiente pra chamar atenção de todos ao redor, inclusive de quem estava pegando o ticket do parquímetro. Os olhares se cruzam. Os corações congelam. E acontece exatamente o que estava escrito no roteiro. Como o covarde magrela da 3° série a única opção é dar meia volta e fugir o mais rápido possível com a esperança de não estar sendo seguido por seu algoz...

...o carrinho do "super" já tem todos os ingredientes pra janta do sábado. Massa carbonara. Uma deliciosa bomba calórica. Só falta o principal. A massa tem que ser aquela que ela adorava e fez você se apaixonar também, da caixinha. Qual era o número mesmo? 13? não não, 13 foi a sua a amiga que cozinhou outro dia com molho branco e champignons. Ela amava a número 3. Ao levantar os olhos da lista de compras, parada bem ali no meio do corredor, com uma maldita caixinha de massa número 3 nas mãos, está ela. Olhos grudados em você. Petrificada. Eu sempre achei curioso encontrar no mercado, abandonado em algum canto, um carrinho cheio de compras. Sempre me perguntei o que faria uma pessoa abandonar suas compras no meio do processo e ir embora? Talvez se deu conta de que deixou a carteira em casa, pouca grana no bolso, uma dor de barriga súbita ou as visitas que viriam pro jantar ligaram cancelando? Se alguém naquele final de tarde, naquele corredor das massas daquele super se deparou com um carrinho cheio de ingredientes para preparar uma bela massa carbonara, se questionou o que aconteceu com o "dono das compras" eu não sei, mas duvido que a pessoa tenha acertado o motivo do abandono. Quem haveria de pensar que um coração apavorado seja capaz de esquecer a fome, a vergonha e a dignidade e sair correndo de um lugar como se escapasse de um prédio em chamas?...

...o auto-falante 12" pifado já há uns bons 10 meses não tem ajudado em nada na "santa missão" de ajudar a diminuir o nível de estresse no trânsito infernal dessa cidade. Morar no centro tem seus prós e contras, mas certamente o pior "contra" é o maldito trânsito. Pink Floyd - Coming back to life rolando no som, que sai dum lado só. Sinal fechado. Calor. Ar condicionado desligado pra evitar irritar ainda mais a garganta, vidros escancarados. Nível de estresse subindo gradativamente a cada metro andado e a cada 10 minutos parados. Tudo bem, tudo bem, o pensamento começa a voar longe, imaginando lugares paradisíacos, praias, cachoeiras, piscinas, loiras e morenas de biquíni, chope...e quando os olhos voltam a focar o mundo real, estou olhando fixamente pela janela do caroneiro. O carro ao lado é um dos centenas de milhares ágile prata que parecem brotar em todas as ruas dessa cidade. Mas no retrovisor desse ágile em especial havia pendurado um "adorno" muito singular. Atrás do volante, olhando diretamente pro clio vermelho, estava ela. Graças ao auto-falante que não funciona, pude ouvir a música que vinha do carro vizinho. Pearl Jam - Yellow ledbetter. O sinal abre. As buzinas enlouquecem a berrar clamando por movimento. Por longos e intermináveis segundos dois carros param de vez o trafego que já era lento. Tudo está parado. O Mundo todo e toda a gente está parada observando aquela cena absurda. Um Mashup de Pink Floyd com Pearl Jam faz a trilha sonora de um acidente automobilístico. O clio vermelho vai passar algumas semanas na funilaria pra remendar os estragos causados pelo carro-forte amarelo que vinha no sentido contrário da mão única que era a rota de fuga acessível no momento...

Não. Não foi de nenhuma dessas formas que eu te vi.

Eu te vi mesmo foi noite dessas ai.

Foi no meu barzinho favorito, tradicional noite de sexta de rock com os amigos. Fer Costa, Rodrigo Campanholo e Black Birds tocando all night long. Nunca me passou pela cabeça encontrar você ali. Bem ali onde você nunca aceitou convite meu pra ir, porque era lugar que seu ex frequentava e você não queria correr o risco de cruzar com ele. Mas comigo você assumiu o risco. E assim como a lei de trânsito diz que se você assumir o risco de causar um acidente você é culpado, a lei da vida também condena quem displicentemente coloca em risco a sanidade de outro. Se tivesse me passado pela cabeça que poderia te encontrar logo no meu lugar preferido, onde todos os meus amigos amam passar agradáveis e despreocupados momentos, eu teria deixado uma foto sua com o porteiro. Pediria pra ele me ligar caso você aparecesse e então eu iria pra um extremo da cidade, ou do mundo se possível. E se você estivesse acompanhada eu apareceria armado. Mas seria como na velha canção do Rosa Tattooada..._sorriu e disse adeus, o inferno vai ter que esperar_...

Noite dessas eu te vi. Vestido vermelho, amigos na mesa, e você bebia uma caneca de chope.

Noite dessas eu te vi. Você nunca usou vestido vermelho. Você nunca bebeu uma caneca de chope.

Noite dessas eu te vi. Eu sei que não era você. A garota tinha apenas uma mera semelhança contigo, alguma coisa lembrava o cabelo ou o olhar. Mas eu sei que não era você.

Noite dessas eu te vi. Não era você mas eu prefiro acreditar e dizer pra mim mesmo que era sim.

Noite dessas eu te vi. Então não preciso mais te procurar por aí, porque o maldito destino já cumpriu a sua promessa. Já vi você. Já sobrevivi. Não preciso mais te procurar. Agradeceria se você também parasse de me procurar em todas as esquinas, em todos os carros ao lado e em todos os corredores de mercado.

Noite dessas eu te vi. Espero que você também tenha me visto em alguma das suas noites de delírio.

Noite dessas eu te vi. Este foi meu ponto final na procura do que não queria encontrar.




terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Estamos lentamente dançando em um quarto em chamas

Você pode ler esse texto ao som de https://www.youtube.com/watch?v=32GZ3suxRn4


Já perdi a fé na vida algumas vezes. Duvidei do presente e do futuro tantas vezes que não sei mais contá-las nos dedos das mãos. Já estive a beira do abismo, já convivi com a escuridão, brinquei com o perigo, me afoguei com fogo e me queimei com água algumas vezes também. Deixei de acreditar, duvidei da vida das coisas do coração e das coisas da alma de todas as maneiras  que são possíveis à um simples homem se questionar. Desisti muitas vezes de olhar nos olhos pois sabia que só veria refletido ali o vazio do meu próprio olhar. Senti vergonha muitas vezes. Vergonha do que fiz, do que me tornei e do que ainda haveria de ser.

Pra servir de contra-ponto sempre fui bom em recomeços. Lamber as feridas, sacudir a poeira e recomeçar a caminhar mesmo que mancando fazem parte do meu repertório de "habilidades adquiridas à contragosto ao longo do tempo". A palavra bonitinha que da nome a isso pode até ser RESILIÊNCIA, mas eu prefiro chamar de instinto de sobrevivência. A incrível, inegável, inconfundível e mais difícil coisa de se ignorar: a necessidade de seguir em frente e provar pra si mesmo que a capacidade de chegar "lá" ainda mora em você. Se tem algo que fica gritando e martelando na sua cabeça insistentemente por horas e horas à fio, dia após dia, é essa necessidade que impera sobre todas as demais coisas importantes ou não na sua vida. Esse precisar, esse querer, essa urgência em levantar do chão, sair do lugar mesmo sem rumo definido, sem plano traçado ou objetivo meramente claro. Levantar e caminhar nem que seja a passo de tartaruga. Tudo na sua vida clama por movimento depois da queda. E de tanto cair também aprende-se a levantar.

E olha que nessa hora, a hora sagrada de se afastar do solo, erguer a cabeça e acostumar a visão ao olho-no-olho novamente, a elegância e a graça nos gestos nos atos e no andar podem tornar as coisas mais suaves e agradáveis, mas sinceramente chega determinado ponto da existência humana em que essa preocupação fica em segundo plano e mesmo sendo a trancos e barrancos, com topadas feias nas quinas escondidas da vida, escorregando aqui e ali nas estradas mal pavimentadas do cotidiano ou se agarrando com unhas e dentes nos íngremes penhascos dos dias difíceis, o que conta mesmo não é o estado em que você vai chegar, se vai estar dignamente vestido prum baile de gala com seu smoking novinho e o sapato brilhando mais que uma supernova ou se a única coisa que cobrir sua nudez for os velhos trapos que resistiram as batalhas cruéis do Bom Combate, e sim o modo como você se manteve caminhando.

Os passos foram firmes ou trôpegos? Não importa. Importa apenas se o caráter foi mantido intacto. Foi um agradável passeio ou uma luta infindável por cada gota de ar respirado? Não importa. Importa mesmo é se sua alma está imaculada. Teve ajuda e boas companhias ou trilhou o caminho na mais completa e absoluta solidão? Não faz diferença se manteve teu coração puro e solicito. Se durante o caminho conseguiu colocar à prova e comprovar a tese de que "os fins não justificam os meios", se o caminho te desafiou a mostrar o melhor de ti, e destes o melhor, e mesmo assim conseguistes chegar, então pode te considerar um vencedor e sentir-se orgulhoso de fazer parte do seleto grupo dos que reconquistaram a fé na vida e no caminho a ser trilhado.

As coisas podem começar como terminaram, ou até mesmo terminar como começaram. Meu caminho tem muito ainda dos mesmos passos lentos da dança que consumiu noites frias de um longo e longínquo inverno passado. Porque eu sei que nós "ESTAMOS LENTAMENTE DANÇANDO EM UM QUARTO EM CHAMAS" e continuaremos assim por um bom tempo ainda, quem sabe até que o fogo tenha se apagado, ou até que o fogo tenha nos consumido totalmente.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Um dos 5 melhores...

Eu sempre sonhei em ser bom em alguma coisa, mas muito bom mesmo, tipo um dos 5 melhores do mundo.

Poderia ser no esporte. Futebol, vôlei, tênis, natação ou futebol americano, ping-pong, surf ou jogo do taco mesmo.

Podia ser também em algo intelectual. Um gênio da ciência, matemática avançada, astrofísico nuclear, especialista em qualquer tipo de teoria indecifrável pra todo o resto da humanidade ou quem sabe decorar todos os gibis da Turma da Mônica.

Talvez algo divertido. Melhor jogador de Super Mario do mundo, o cara imbatível no jogo do UNO ou Banco Imobiliário, bater o recorde de bolinhas de sabão por minuto ou o mais rápido em subir escadas com um pé só.

Algumas vezes tenho a ilusão de que eu realmente poderia ser muito bom em algo que nunca tentei. Fico imaginando um dia pegando uma bola de baseball e arremessando a 150 km por hora, ou sei lá quanto é rápido o bastante um lançamento nesse esporte, e descobrindo ali sem mais nem menos um talento nato, algo que nasceu em mim e sempre me acompanhou mas nunca descobri. E ao ser dono dessa nova habilidade eu seria um dos 5 melhores arremessadores de baseball do mundo.

Já pensei em abrir um livro que fala sobre a Teoria das Cordas, dos Buracos de Minhoca e tantas teorias malucas e perceber que além de estar entendendo tudo que está escrito ali eu ainda encontraria uma série de erros elementares e conseguiria resolver todos os "furos" dessas teorias. Seria então agraciado com um Nobel e levaria a humanidade à outros patamares da evolução do conhecimento.

Ou quem sabe acordar uma certa manhã com a mente e o espírito iluminados a tal ponto que conseguiria apenas com as palavras e ideias acabar com as mazelas e conflitos da humanidade. Colocaria fim na fome e nas doenças que assolam a Africa, poria fim nos milenares e sangrentos conflitos do Oriente Médio, sanaria a ganância e a falta de escrúpulos dos poderosos que condenam seus "iguais mas inferiores" à miséria e ao sofrimento do dia a dia.

Despertar pruma nova vida sendo e sentindo-se diferente. Sendo e sentindo-se especial e capaz de coisas especiais. Acordar num mundo em que pessoas sem grandes talentos e sem grandes ambições como eu possam fazer diferença pelo simples fato de fazer e pensar e sentir diferente. Abrir os olhos e encontrar ali bem ao alcance dum abraço uma legião de pessoas que também tem os mesmos sonhos e os mesmos desejos. Porque eu sei que se não me sentisse tão sozinho nessa tarefa de sonhar um futuro bom pra toda a gente seria mais fácil colocar em prática meu plano de salvar o mundo com pequenas doses diárias de amor e sorrisos. Quando encontrar outros corações dispostos a encarar essa árdua missão que consome os dias, missão de sorrir e amar e cuidar e querer bem e não julgar...etc etc etc...aí então acho que meu desejo de ser um dos 5 melhores vai desaparecer, porque seremos todos melhores em tudo e não mais fará sentido querer se destacar entre tantos corações e mentes cheias de amor.

Sei que existem tais corações dispostos mundo afora, sinto que muitas vezes me aproximo de alguns deles, estou aprendendo a reconhece-los, talvez pelo olhar, pelo sorriso ou pela sincronia em que batem nossos corações. Por enquanto os tenho chamado de "amigos". Mas quando as coisas começarem a evoluir de verdade os chamarei de "irmãos".




terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Estremecer



Quanto tempo faz? Mais de uma década?
Ainda dói como se tivesse sido a quatro minutos atrás
Nós só influenciamos um ao outro totalmente
Nós só machucamos um ao outro ainda mais, então

O que você é, meu sangue? Você me toca como se fosse meu sangue
O que você é, minha mãe? Você me afeta como se fosse minha mãe
Por quanto tempo um garoto pode estar algemado a você?
Quanto tempo até que minha dignidade seja devolvida?
Quanto tempo um garoto pode permanecer assombrado por você?
Logo eu crescerei e não vou sequer estremecer ao ouvir seu nome
Logo eu crescerei e não vou sequer estremecer ao ouvir seu nome

Aonde você esteve? Eu ouvi dizer que você se mudou pra minha cidade
Meu irmão viu você em algum lugar no centro da cidade
Eu ficaria paralisado se me encontrasse com você
Minha língua agarraria o céu da boca se nos encontrássemos
outra vez

O que você é, meu deus? Você me toca como se fosse meu deus
O que você é, meu gêmeo? Você me afeta como se fosse meu gêmeo

Por quanto tempo um garoto pode ser torturado por você?
Quanto tempo até que minha dignidade seja devolvida?
Quanto tempo um garoto pode permanecer assombrado por você?
Logo eu crescerei e não vou sequer estremecer ao ouvir seu nome
Logo eu crescerei e não vou sequer estremecer ao ouvir seu nome

Então aqui estou, no quarto ao lado de onde sei que você está
Um homem bem-intencionado me disse que você acabou de entrar
Esse homem não sabe como essa informação me afetou
Mas ele sabe a cor do carro no qual eu acabei de ir embora

O que você é, meu parente? Você me toca como se fosse meu parente
O que você é, meu ar? Você me afeta como se fosse meu ar



Será que você pode me odiar?




Odeio quando eu brigo contigo e tu não me responde. 

Odeio tua covardia de não revidar, não brigar de volta. 

Por que não me manda pro inferno? Por que não usa os piores palavões que passarem pela tua mente. 

O teu silêncio é pior do que qualquer agressão tua, teu silêncio me tortura.

 Então me manda pro inferno, ao menos vou saber que está braba comigo. 

Me deixa sentir tua fúria, me mostra tua ira, grita com a boca e com os olhos e com o corpo que me odeia.

 Maldição, se você me odiasse seria tão mais fácil seguir em frente. 

Já te pedi pra você me amar.

Você não pode me amar.

Será que você pode me odiar?

sábado, 29 de novembro de 2014

Minhas promessas não foram falsas, talvez precipitadas

Conhecer um novo lugar é se permitir entrar em novos mundos, de uma maneira poética e um tanto exagerada também é vislumbrar novas galáxias, tantas são as cores que saltam aos olhos e cheiros que despertam desejos, sons e tons que são capazes de fazer o cérebro entrar em transe durante os primeiros passos que adentram aquele espaço desconhecido.

Pode ser uma praia, uma montanha, um deserto, uma cachoeira, uma cidade histórica ou um simples bar. Desta vez foi um bar. Lugar pequeno, aconchegante, colorido, música bem baixinha, cardápio com textura, pizza saborosa, suco geladinho, café com conhaque e o melhor chantilly do mundo.

Por todos os lados pessoas. Nenhuma meramente parecida com a outra. Ou com outras pessoas de outros lugares. Um lugar único frequentado por pessoas únicas talvez? Ou não. Eu que sempre fui muito igual em todos os lugares iguais que sempre frequentei. Mas ali tudo era diferente. As conversas, os sorrisos, as vestes, os semblantes. Tudo, desde as paredes coloridas e com desenhos "psicodélicos" até os cães que certa hora da noite deram o ar da graça por entre as mesas do local, faziam me sentir em outro planeta. Não o meu. Não meu Planeta Terra tão conhecido. Eu estava em outra dimensão. E no meio de tudo aquilo que me era estranho eu também me senti estranho, diferente. Por alguns momentos deixei de ser igual.

Ao me voltar para a conversa despretensiosa que rolava na nossa mesa, ao focar aqueles  olhos  e aqueles sorrisos que brilhavam bem ali na minha frente, eu me sentia grato pelo simples fato de estar desfrutando da maior dádiva que a vida pode oferecer a uma alma cansada: a companhia sincera de bons amigos. Eu me sentia feliz sem motivo específico. Me sentia feliz por estar partilhando de um momento em que os bons sentimentos eram partilhados sem medida e sem restrição. Tudo naquele instante cheirava a café recém passado com uma pitada de canela e uma dose exagerada de sorrisos.

Sei que sempre que escrevo sobre algo bacana nos meus dias eu insisto de destacar os sorrisos. Mas é assim que funciona comigo. Quando estou bem eu vejo sorrisos por toda parte. Vejo sorrisos nos lábios, vejo sorrisos nos olhares, nos gestos e nos sabores e nos perfumes. Vejo sorrisos iguais aqueles que vi um dia quando fiz mil promessas de um futuro bom. Mais de mil promessas. Foram um milhão no total. Um milhão de promessas de um futuro bom e de um amor que jamais acabaria.

Hoje é também com um sorriso no rosto que eu consigo perceber que minhas promessas não foram falsas, talvez precipitadas.



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Ela tem mil facas e parece não cansar de me acertar

Como um trem que insiste em passar pela velha e abandonada estação de uma cidadezinha perdida no meio do nada, em horários absurdos, as vezes as 10 da manhã duma quinta-feira de sol, ou as 5 da tarde num sábado angustiante, outras vezes as 15 pra meia noite da segunda-ferira monótona e de total apatia, assim sem aviso, sem ser esperada, ela resolve aparecer.

Por mais que eu tente me enganar, as coisas não vão lá muito bem, é uma luta diária pra tentar colocar tudo em ordem. Sentimentos sendo domados e empurrados à força pra dentro de grades feitas de medo, que nada mais é senão o mais resistente dos materiais capaz de aprisionar sentimentos tão fortes. Pensamentos anestesiados por doses cavalares de angústia e ansiedade, corpo, coração, mente e alma resignados ao seu destino.

Então ela aparece.

O trem chega com todo seu barulho, fumaça e confusão.

Sei que não é por mal. Eu sei. Não há maldade, não há intenção de machucar, mesmo quando se tem certeza que vai causar dor, confusão e sofrimento.

Também sei que é inevitável.

Pra ela e pra mim.

Ela precisa se sentir perto de alguma forma, manter contato, ainda não está pronta pra seguir em frente, pra aceitar que cometeu o maior erro da sua vida e tentar consertar tudo ou deixar partir.

Eu, bem, eu não sei de nada mais nessa vida, ao menos não no meio dessa confusão toda.

Nesse momento ela é um trem desgovernado que vaga à milhares de km por hora sem rumo, cruzando à todo vapor por trilhos perigosos, passando por vales desolados, cordilheiras abismais, desertos áridos e cidadezinhas abandonadas perdidas no meio do nada, cenários vazios que não alimentam sua alma e nem matam sua sede de sentido e que ao menor descuido podem causar um desastre de proporções terríveis. Em seu movimento furioso, ela é um enorme perigo, pra si mesma, pra quem cruzar seu caminho, pra mim também, sendo ou não sua parada final, sua última estação, seu ponto de chegada.

Entre as tantas vezes que esse trem passa feito relâmpago pela velha e abandonada estação encrustada no fundo da minha alma, eu me sinto num picadeiro de circo, amarrado ao alvo que gira, enquanto ela lança suas facas afiadas tentando a sorte de cortar as cordas que nos prendem um ao outro, ou ao que ela julga estar mantendo nossos corações tão longe.

Ela abre os olhos e joga as facas.

Eu fecho os olhos e sinto minha carne ser cortada.

Ela tem mil facas e parece não cansar de me acertar.



domingo, 23 de novembro de 2014

Levando-se em conta que no começo tudo era escuridão, parece-me que a luz está vencendo

Vai garota, segue em frente. Segue em frente e enfrente. Não faça como antes. Não fique a vigiar o passado. Continua. Respira e levanta a cabeça. Abre teus olhos. Mas abre de verdade e enxerga que na tua frente são vários os caminhos a seguir.

O passado é apenas um caminho no qual você não pode mais caminhar garota. Então levanta daí. O chão não é teu lugar. Tua alma é altiva demais pra rastejar. Sacode o pó garota que te pesa os dias e anda.

Teus passos são elegantes, então aproveita esse dom e desfila, faz da vida tua passarela. Tu atrai olhares por onde passa. Aproveita esses olhares, mesmo que tu não os retribua, faz deles tua força, infla teu ego. Não é muito, mas um ego inflado pode fazer voar. E quando os passos pesam isso ajuda. Vai lá, confia em mim, já usei essa tática e sei que funciona. Só não te prende a isso por tempo demais, é pra ser apenas uma muleta, não te abastece por muito tempo apenas de ego ou dessas tantas coisas de prazer fácil mas perecível.

E quando aprender a andar novamente, bela e confiante, com os olhos no horizonte, não esquece de abrir sorrisos.

Sorri garota pro sol que se poem, pra borboleta que roça as asas nas tuas costas, pobre borboleta que confunde o desenho da tua pele com uma flor de verdade, ela sente ainda doçura em ti, abre sorrisos garota aos bichanos que te chamam atenção com latidos alegres ou miadas tímidas, mas não esquece também de sorrir a toda gente que te olha nos olhos e te reconhece como uma alma sedenta de afeto.

Abre sorrisos a quem te sorrir, com os lábios, com os olhos, com o coração ou a alma.

Sorri garota.

Teu sorriso é o mais encantador que já vi.

E então entende garota.

Entende como eu estou entendendo agora.

Eu já consigo ver.

Logo você também vai ver garota, só mais um pouco de tempo e uma pitada de fé.

Você vai ver e vai entender garota que no começo tudo era escuridão. Mas agora a luz está vencendo.


sábado, 22 de novembro de 2014

Antes de construir a felicidade certifique-se que tem tudo o que precisa.

Meu tio avô, que assim como meu avô e todos os seus irmãos eu acho, era marceneiro, tinha uma caixinha de ferramentes em seu galpão de trabalho, e quando a gente precisava de alguma coisa podia ir até lá e pegar. Mas "ái de quem" não devolvesse uma ferramenta ou tivesse a infelicidade de bagunçar a sua tão bem organizada caixa de ferramentas de trabalho. Lembro muito bem que o "tio Cirilo" tinha um cuidado imenso com suas ferramentas, era um zelo que demostrava carinho e respeito por aqueles objetos que faziam parte do seu dia a dia e ajudavam no sustento da casa.

Ao pensar nisso me dei conta em que chega um dia em que a gente
se depara com a seguinte situação: Você tem todas as ferramentas para ser feliz. Todas mesmo, não lhe falta nada, nem as ferramentas e nem o material pra construir a felicidade.

Dentro da sua caixinha de ferramentas que levou tantos anos pra ficar assim tão completa e bem cuidada  está uma dose generosa de saúde, item indispensável pra começar qualquer projeto, inteligência em quantidade suficiente pra gerir o andamento da coisa, boa vontade pra fazer acontecer, coragem pra enfrentar as dificuldades, ousadia pras mudanças necessárias durante o processo, uma boa parte de resiliência ainda não usada para todos os recomeços necessários. Ainda tem ali, bem a mão pra ser usado toda vez que for preciso, um tiquim de carisma e até um certo charme, um sorriso fácil, bom humor, sede de coisas novas e um pacote cheio de sonhos e desejos.

Na caixinha de ferramentas também tem os materiais obrigatórios de proteção, pois sabe-se que nenhuma obra importante pode ter início sem a segurança estar em dia. Fé, esperança e otimismo garantem o bem estar durante a construção da felicidade. Armado com esse itens indispensáveis não há risco de acidentes graves.

Tem alguma coisa faltando né? Algo muito importante por sinal.

Como projetar, alicerçar e construir felicidade sem fundamentar tudo isso sobre o amor?

Mas amor não falta, nunca faltou. Sempre foi elemento constante e abundante. E amor do bom, raro por sinal, de excelente qualidade. O que faltou foi saber usar. Por ser o amor algo que não vem com manual de instruções e que tem um funcionamento tão pessoal que não pode ser ensinado de uma pessoa pra outra, ele foi erroneamente aplicado, por vezes de forma exagerada quando se precisava doses pequenas e com menos intensidade, ou quando carecia de quantidades abundantes o amor disponível era pouco e de fraca consistência.

Amor mal usado, mal aplicado, amor em medidas e proporções erradas. Amor despejado em lugares onde não devia. Capaz de estragar qualquer receita, até a da felicidade.

Mas com o passar do tempo vai somando-se a caixinha de ferramentas do "projeto felicidade" a experiência. Tantos fracassos deixam lições e lições se transformam em experiências. E a experiência torna-se a chave de tudo.

Quando chegar o mento certo, a combinação de todas essas ferramentas, todos esses materiais e a utilização da experiência em dosar tudo isso com medidas certas de amor, então estará construída uma felicidade resistente, duradora e completa.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Os Demônios que eu criei para mim mesmo

_"Existe sempre um evento em nossas vidas que é responsável pelo fato de termos parado de progredir. Um trauma, uma derrota especialmente amarga, uma desilusão amorosa, termina fazendo com que nos acovardemos, e não sigamos adiante"._

Mesmo o mais corajoso dos Guerreiros passa por isso. Chega uma hora na vida em que a gente trava. Alguma coisa nos paralisa. E dar o próximo passo é aterrorizante.

Alguns se amarram ao passado, outros se encarceram no presente e ainda tem quem se prenda a um futuro de ilusões e expectativas.

O Guerreiro que durante toda a vida travou corajosamente o Bom Combate, com o mundo e consigo mesmo, lutou e conquistou seus sonhos, depois de grandes realizações se senta em sua tenda na calmaria dos dias e vê todas as suas conquistas virarem pó. As suas grandes vitórias no campo de batalha, antes tão entusiasmadamente comemoradas por ele e por seus companheiros de batalha, agora não fazem mais sentido, perderam o sabor. Suas grandes paixões já não queimam no peito. Seus grandes amores viraram apenas uma nuvem de fumaça que agora deixa turvo os caminhos ao seu coração.

O Guerreiro está sentado no silêncio da sua tenda. Ele tem várias decisões a tomar. A mais difícil delas é essa: Decidir ou não decidir? É isso que o atormenta. Ele percebe que a sua armadura tão bem forjada ao longo doas anos com fé, esperança e amor já não lhe serve mais, talvez por ter ficado pequena, ou por ele ter diminuído a ponto de perder pelo caminho aquilo que lhe tornava tão invulnerável.

E sem sua armadura  o Guerreiro se sente desencorajado. Sem sua armadura o Guerreiro se sente desprotegido. Sem coragem pra decidir se decide ou não. Coragem pra dar os passos necessário se decidir ir em frente. O Guerreiro sabe o quanto custa começar um novo caminho, o quanto é necessário reunir forças, treinar a mente e o corpo e alimentar o espírito para se preparar  para uma nova e longa jornada. Mas também não tem coragem de não decidir, pois sabe o que significa desistir a essa altura do caminho. Tudo o que lhe bastou até agora - conquistas, vitórias, troféus, paixões e amores - não é suficiente para mante-lo firme pelo caminho e tão pouco capaz de dar a paz de espírito que o Guerreiro precisa para se acomodar ao fundo de sua tenta e viver ali seus dias em contemplação.

Lhe falta fé e coragem para prosseguir. Lhe falta fé e coragem para ficar.

Mesmo depois de tantos anos na batalha, tantos anos de Bom Combate, o Guerreiro não sabe onde está a resposta que precisa. Se está dentro da sua tenda, ali no silêncio dos seus dias, ou se a resposta está lá fora no mundo que lhe oferece vários caminhos.

Assim o Guerreiro passa seus dias convivendo com os Demônios que criou para si mesmo.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

E então garota, me conta agora quanto vale a sorte de uma amor tranquilo?

Havia essa garota que andava perdida. Ela sabia muito bem onde estava afinal era dona de si mesma. Rica, bem sucedida, linda e sexy, charmosa e elegante. Mas estava perdida. Perdida no passado. Perdida no presente. Perdida no futuro.

Ela caminhava com passos bem decididos. Mas ia pra lugar nenhum. Seu olhar nunca se mantinha por muito tempo no horizonte, desviava os olhos de pouco em pouco pra trás, olhava por sobre o ombro e o que ela via ali a deixava confusa. Confusa. Era assim que ela andava e era isso que a deixava perdida. Ela era uma garota confusa. Confundia as coisas. Confundia os sentimentos. Confundia os valores. Mas ela continuava a andar mesmo perdida e mesmo confusa.

Enquanto seguia seus passos pra lugar algum a garota espalhava sua confusão.

Um dia no meio do caminho a garota encontrou a sorte de um amor tranquilo. Ele estava ali, como se a estivesse esperando a vida toda.

 A garota em toda sua confusão confundiu aquele amor com que o que já tivera no passado, pois não soube diferenciar  o que via do que o que já tinha visto, o que sentia do que já tinha sentido, pois ela tinha que olhar por sobre o ombro e se certificar que o passado ainda estava ali. Ela usou sua balança de valores ao invés de usar seu coração. Aquele amor verdadeiro pesava muito menos que o ouro que ela tivera no passado.

Fazendo isso a garota confusa deixou o amor de lado e partiu em busca do passado.

A garota continuou andando, confusa e perdida, foi ao encontro do passado e do que ela sentia que podeira lhe fazer feliz. Ela encontrou o passado e com ele o ouro que ela julgava poder comprar a felicidade. Ela não precisava mais olhar pra trás. O passado estava caminhando ao seu lado agora.

Mas chegou um momento em que a garota confusa se deparou com o presente e pode perceber que todo aquele ouro não comprava sorrisos, nem paz e jamais daria a ela a sorte de um amor tranquilo.

A garota perdida estava agora mais perdida. A garota confusa estava agora mais confusa. Ela tinha ouro. Mas queria o amor. Mas essa troca nunca fora possível. No mercado dos sentimentos verdadeiros e da felicidade duradoura o ouro não compra a sorte de um amor tranquilo.

O passado a deixava confusa. O presente a deixa perdida. E o futuro garota? Do futuro ela não sabe o que quer. Na verdade ela apenas está confusa e perdida. A garota sabe o que quer do futuro. O que ela ainda não sabe é o quanto vale a sorte de um amor tranquilo.




quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Eu sou tão feio, mas tudo bem, você também é

Hoje voltando do trabalho pra casa, tempo cinza e chuviscando, estado de espírito "so down", ligo o rádio e duas músicas na sequencia me fiazem pensar em um milhão de coisas durante os 25 minutos do trajeto. Escolhi como título um pedaço da música do Nirvana pois é por esse assunto que pretendo começar. Vou terminar com uma canção do Oasis.

I'm so ugly, but that's okay, 'cause so are you - Eu sou tão feio, mas tudo bem, você também é.

Já li várias vezes e ouvi em muitas oportunidades que nós, seres humanos, somos um "projeto que deu errado". Cara, será isso mesmo? Será verdade "sapoha toda"?

Esse questão é profunda e filosófica. Mas ao mesmo tempo é tão simplista quanto uma lista de compras do supermercado.

Eu sou feio, mas tudo bem, porque você também é. Assim posso justificar as coisas feias dentro de mim pelo simples fato de saber que você também carrega uma enormidade de feiuras aí dentro.

A mesma mão que é capaz de ajudar a levantar e fazer um afago de carinho, capaz de apontar um caminho mais suave e com menos espinhos, também é capaz de bater a porta na sua cara por um motivo bobo. A mesma alma que acusa a outra de a estar machucando e magoando, fazendo acusações e cobranças repetitivas, está fazendo exatamente isso. Está machucando e magoando pelo simples fato de se sentir assim. 

Eu sou feio, mas tudo bem, você também é. Você é feio, por isso eu também sou. Precisa motivo melhor pro cara dar um tiro na cabeça e explodir os miolos? Talvez se o Kurt no auge das suas crises de depressão tivesse chegado a outra conclusão, se ele tivesse visto e sentido o ser humano de outra forma?  Eu sou bonito, pois você também é. Você é bonito, então também posso ser. 

Tudo isso é filosofia barata eu sei, mas num dia cinza e todo errado como hoje, quando coisas que a gente não sabe entender acontecem e se repetem a gente começa a ver "Como eu sou feio por dentro e sinto tanta coisa feia, mas tudo bem porque sei que você sente o mesmo, talvez coisas piores"

Hoje percebi o poder do reflexo na vida. Senti coisas feias. Me senti feio. Senti que você também é tão feio como eu. Por bater a porta na minha cara. Por eu ter sido magoado e estar magoando. 

No final somos todos feios, porque refletimos o que somos nos outros.

Mas aí vem a música seguinte. 

Don't look back in anger - Não olhe pra trás com raiva.

O caminho pode ser esse. Pra corrigir nossa "feiura" talvez baste não olhar pra trás com raiva. Saber reconhecer com gratidão se foi auxiliado em algum momento, jamais negar a mãe estendida se lhe for pedido ajuda novamente. Saber perdoar se foi magoado, com ou sem intenção. 

Se a vida te permitir desatar os nós do passado não exite, faça isso, porque essa é a melhor forma de pisar no futuro, com um passo firme, sem nada te amarrando lá atrás.

Sim, eu sou feio, você também é! Somos humanos. Mas temos a capacidade de perdoar e seguir em frente. 

Temos a capacidade de Não Olhar Pra Trás Com Raiva.



terça-feira, 11 de novembro de 2014

Se for pra beijar que seja um BEIJÃO!!!!!

_ Boa noite! Beijinhos com carinho! _

_ Beijinhos não!!!!! Beijões então. Eu não dou beijinho. Se for pra beijar, que seja um BEIJÃO!!!!! _

A cabeça encosta no travesseiro e automaticamente surge um sorriso gigantesco no rosto.

E aí o cara lembra que tem gente que saboreia a vida como se fosse uma gostosa sobremesa, com uma colher bem grande e sem medo de se lambuzar. Se da conta que essa é a forma certa de se viver. Que nada substitui a leveza de um sorriso gostoso ou até mesmo uma gargalhada desavergonhada. Aquelas que chama atenção de todos ao redor. E que escrita soa bem assim "kkkkkkkk". São 8 ks. É uma gostosa gargalhada até de se ler.

Tem o tipo de gente também que é companhia sempre boa. Sem querer ser. Simplesmente é. Ta ali. Ta do teu lado. Sabe ser agradável. É leve. E solta. É livre. Um ar inteligente. Um sorrisinho sempre ali. Sabe dar conselhos sem exigir retorno. Te olha e te fala. Sempre com ternura. E ainda fica bem de suspensório.

Tem o tipo de gente que é despreocupação pura. Nunca vi e nem percebi traço algum de preocupação afetar aquele semblante. A cara da tranquilidade. Inabalável. Astúcia e uma boa dose se malandragem fazem com que desfilar pelo bar e espalhar aquele charme que até agora não decifrei pareça a coisa mais natural do mundo. E é natural.

Tem gente desligada. Tem gente que você precisa explicar 3 vezes e ainda assim acaba desconfiando que não entendeu. Mas não é "lezura", é só baixa rotação mesmo. Mas entende com o coração. Aparenta dureza. Mas é apenas uma carapuça muito bem forjada.

Tem gente que é grande. Que tem o coração grande. A alma é grande também. Gigante bondoso. Não faz mal nem pra animalzinho, nem se quer da uma mordidinha neles. Hehehe...Tem gente enorme de sorriso enorme e enorme capacidade de transparecer bons sentimentos.

E tem também eu, que ando convivendo com todo esse tipo de gente e pouco a pouco pegando um pouquinho de cada coisas boa que eles tão generosamente oferecem.

Então nada mais de beijinhos, fica bem!

Se for pra beijar que seja um BEIJÃO!!!!!




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Cantar, que bom quando é pra ti!!!!!

Era domingo e o parque estava lotado - de gente, de sorrisos, de sol, de céu azul e de música boa -. No alto falante a loirinha dos cabelos cacheados cantava com sua doce voz uma música antiga que todos ali sabiam acompanhar _ "Cantar (cantar...) Que bom quando é pra ti Ver teu sorriso Também me faz sorrir". 

Os amigos estirados sobre a esteira de palha se deliciavam num coquetel de chimarrão, salgadinhos, balas e pipoca doce. O clima era agradável. A sensação era de paz. Eles não percebiam, mas aquilo era um presente, uma dádiva de Deus. A calmaria do ambiente, dos corações e das almas era contagiante.

Uma mistura infindável de cores, estilos e sabores. Se algum cientista dedicado a estudar sobre as diferenças do ser humano estivesse trabalhando naquele domingo naquele parque teria muito material para analisar ao fim do dia. Quantas raças, quantas graças, quantos crenças. Quantas diferenças. Diferenças que iam desde a cor até o valor. Das almas e dos bolsos. Mas principalmente quantas igualdades. Igualdades nos bons sentimentos, na boa fé, nas boas esperanças que só aquele caleidoscópio de sol com céu azul e verde das árvores e da grama e o branco daqueles sorrisos podia fazer gritar sentidos.

Então a loirinha dos cabelos cacheados que tá lá longe no palco resolve impactar um coração em meio aquela multidão toda, e faz à capela mesmo, como se cantasse para uma única alma, a canção que pra ele sempre traduziu tudo o que um amor em seu estado mais puro quer e pode ser _ Não te trago ouro Porque ele não entra no céu E nenhuma riqueza deste mundo 
Não te trago flores Porque elas secam e caem ao chão
Te trago os meus versos simples
Mas que fiz de coração
Apenas por um segundo ele foi transportado pra longe. Apenas por um segundo não havia mais uma multidão ao seu redor. Apenas por um segundo ele pronunciou essas palavras em voz alta. E por apenas um segundo ela ouviu e compreendeu o que ele quis dizer.
O sol começou a sua viagem pra casa, as sombras foram crescendo, o calor se transformando em uma gelada brisa. Todos se despedem. Um beijo de carinho. Um abraço de até logo. Novos encontros marcados. 
O parque que antes pulsava de vida e risos agora é silêncio. Tal qual como a vida. Mas amanhã o sol volta e com ele as cores e o calor e os sorrisos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Da varanda eles reviviam seu amor

O casal de velhos seguia o ritual de final de tarde.

Era assim que acontecia nos últimos vinte anos ou mais.

Sentavam-se na varanda da pequena casa, cada qual em sua cadeira de balanço, bem juntinhos, o suficiente para segurarem a mão um do outro e de vez em quando alcançar um beijo carinhoso na testa.

Os olhos miravam o por do sol. A cada centímetro que o sol descia em direção a noite sobressaltava sobre o coração dos velhos uma lembrança. Elas vinham quase sempre em ordem. Coração, mente e alma dos dois naquela altura da vida estavam em tamanha sintonia que pareciam sentir e se lembrar do mesmo e ao mesmo instante.

Prova disso era a troca de olhares furtivos e sorrisos algumas vezes maliciosos, quando sabiam eles, a lembrança provocava sensações agradáveis ao coração e ao corpo. Do mesmo modo, determinada altura do sol sobre o crepúsculo, lançava uma sombra sobre o casal. Talvez fosse a lembrança do dia em que ela, ainda lá no começo, há mais de 50 anos passados, decidiu que não era amor e que não valia a pena lutar. Logo depois a expressão de angústia era substituída por um semblante de alívio e agradecimento, quado ambos recordavam que não fora o fim, mas apenas um novo começo, e que tudo o que tinha ocorrida tinha uma razão. O amor as vezes precisa ser botado a prova. O deles tinha passado no teste. Tudo o que o velho tinha feito não havia sido em vão. O amor prevalecera. Pelo simples fato de ser amor.

Ali sentados em suas cadeiras de balanço, o casal de idosos revivia os momentos que marcaram sua vida a dois.

Como ela entrou na sua vida, a primeira vez q se viram, o começo do namoro. O final superado. A volta celebrada. E as conquistas, as vitórias, as viagens. E então a família. Não fora planejado, mas fora muito bem vindo. Uma menina. Dois anos depois um garoto.

Os velhos amantes, agora de mão dadas, lembravam com maior carinho dessa época, As crianças pequenas, correndo pela casa, enchendo o ar de alegria, risos e amor. A velha particularmente nesse momento recorda de uma promessa feita há mais de 50 anos, quando numa noite de sábado, parados em uma esquina em meio a abraços cheios de saudade, beijos sofridos e sentimentos contraditórios, afinal nenhum dos dois, apesar de tanto desejarem por aquilo, julgaram que aquele momento pudesse novamente acontecer. O velho - que na época era apenas um rapaz - lhe disse: _"o que eu tenho pra lhe oferecer é isso, todos os dias quando você chegar em casa cansada do trabalho, vai encontrar nossos filhos correndo pela casa, sorrindo e brincando, vai me ver ali cuidando deles, cuidando de você...então você vai saber o que é O AMOR"_. A senhora de cabelos brancos nunca deixou seu companheiro perceber, mas sempre nesse momento uma lágrima lhe foge dos olhos. Sim, o velho cumpriu sua promessa. Ela aprendeu o que era amor através dele, de seu carinho e sua dedicação para com ela e a família, os filhos e tudo o que dizia respeito a vida dos dois.

As lembranças se seguem conforme passa o tempo e o sol vai dando lugar a lua. Tudo o que fora vivido até ali é passado a limpo, não como alguém que faz uma auditoria na vida em busca de falhas. Mas como um leitor que é apaixonado por uma história e mesmo sabendo de cor e salteado cada palavra sente prazer em reler o livro, pois sabe que toda nova leitura trás consigo novas emoções.

O casal de velhos segue esse ritual a tanto tempo porque esse ato, essa tradição os faz bem. Passam os dia e as noites a conversar, amam fazer isso e o tem feito por toda vida juntos. Mas o por do sol para os dois é silêncio, é contemplação, é oração de agradecimento em honra a uma linda história vivida.

Nessa noite, quando a lua deu as caras, o velho levantou primeiro, gentilmente como um cavalheiro que sempre fora, ofereceu o braço a esposa, a conduziu até a sua poltrona preferida diante da tv, lhe deu um doce beijo na testa e com aquele sorriso que sempre lhe fez espremer os olhos disse: _Hoje a janta é por minha conta meu doce amor!_


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Um breve conto sobre um futuro pronto!!!

Sabe qual é a nossa principal diferença?

Daqui há alguns anos, quando nos encontrarmos na rua, no shopping ou em algum barzinho perdido pela cidade,  sozinhos ou acompanhados, você vai olhar pra mim e vai pensar _ essa pessoa me amou um dia_. Eu vou olhar pra você e pensar _ essa foi a pessoa que eu mais amei na vida. Vamos virar as costas e seguir nosso caminho fingindo que nada aconteceu.

Mas sabe qual vai ser a grande diferença a partir desse momento? 

Eu vou recordar todos os bons momentos, relembrar a batalha que travei contigo e comigo mesmo para que desse certo, para que fossemos felizes. Um sorriso nos meus lábios vai selar a certeza que eu fiz o possível, não me acovardei diante da maior benção da vida que é o amor.  Meus passos serão suaves e sem remorsos e quando chegar ao meu destino serei recebido com um sorriso, um abraço aconchegante e a certeza de um lar baseado no amor.

Você vai virar as costas bruscamente, sentindo um gosto amargo nos lábios, resultado de dúvidas, angústias e incertezas, todas elas geradas pelo mesmo medo que te fez me perder. Medo que te fez ser incapaz de dizer sim, de aceitar a enxergar que o amor estava ali na sua frente implorando pra reinar em sua vida. Você vai fugir dali. Seus passos serão acompanhados de lágrimas até o seu destino e lá será recebido por um olhar vazio e duro que fará você preferir mil vezes apenas a solidão de um apartamento ricamente decorado.

Esses não são desejos macabros de uma alma ferida. Este é apenas um CONTO sobre futuros promissores.

E não, não se preocupe, não estou escrevendo sobre você, este conto foi escrito por outras mãos há muito tempo para mim mesmo.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Obrigado por me fazer andar

A vida nos força a caminhar mesmo quando teimamos em ficar parados. Na verdade é essa a hora que a vida mais insiste em movimento e nem adianta se agarrar ao passado, que por mais pesado que seja, não vai conseguir te manter preso por muito tempo no lugar. A vida sabe também ser brusca pra te fazer andar. "_sempre em frente_" grita a vida com voz autoritária. Ela não está querendo ser sua amiga e nem se importa em ser delicada. A vida quer que você ande. Não faz diferença se você está machucado, cansado, desanimado ou quase morto. "Quase morto" ainda não é morto de verdade pra vida, e também não adianta fingir, afinal de contas quem mais saberia que você está vivo senão a vida?

Se está vivo então ande, caminhe e tenha pressa. Ficar parado não!!!! Fazer corpo mole menos ainda. A vida, mandona como ela só, odeia corpo mole. Se ela perceber qualquer indício que você está fingindo, ela te derruba, pisa na sua cara, te faz sentir o gosto amargo da terra. Aí te força a levantar e e continuar caminhando. Ela continua gritando no seu ouvido suas palavras de ordem favoritas: _vamos, o mundo não para de girar pra você se recompor_.

Nesse ponto a vida parece malvada, dura, insensível. Chega um ponto que ela até mesmo parece brutal. O que não se percebe é que a vida já foi suave, já foi tranquila, já foi sua amiga e até parceira. Mas você parou, estagnou, afundou. Agora um cafuné te faria dormir. você precisa é de um bom empurrão e quem sabe não mereça uns cascudos? 

A vida está sendo mãe agora. Não a mãezona que te serve um refresco e um sanduba maneiro num fim de tarde de verão. Ela está sendo aquela mãe que acorda as 3 da madrugada pra te dar xarope quando a tosse está te matando. O xarope é amargo, você não quer tomar. Mas ela sabe que vai te fazer bem. Se for preciso vai abrir sua boca a força e te fazer engolir. Não é por mal. É só porque você precisa disso pra melhorar, acordar bem de manhã e voltar a caminhar.

Então amanhece com sol, você se sente melhor, respira fundo e segura na mão da vida. Ela não precisa mais te forçar a caminhar. Agora você da passos ao lado dela e consegue olhar pro sol e sentir de novo seu calor. 

É hora de olhar no fundo dos olhos da vida e agradecer. _obrigado por me fazer andar_


sábado, 1 de novembro de 2014

Um banho quente pra curar a alma...

A confusão ta grande aqui, sabe? São pensamentos no coração, sentimentos na cabeça, de vez em quando tem até um ou outro passeando pelo estômago. Da pra imaginar o que um pensamento ou um sentimento querem passeando por ai? Ainda mais no estômago. Lá eles causam embrulho, não é lugar deles. Já não basta espantarem a lucidez da cabeça e encherem o coração de angustia e ansiedade? Mas não, eles querem é descontrolar o corpo todo. To te falando isso porque sei que você sente o mesmo, ou já sentiu alguma vez na vida, quem sabe não sentiu isso ontem a noite?
E são muitos silêncios. Muitas perguntas. Algumas feitas e respondidas. Algumas apenas se calaram. Não foram feitas promessas. Nem uma sequer. Ansiava muito por promessas. Não podiam ser feitas eu sei, mas eu esperava de coração por elas. Promessas de que vai dar certo, de que vai ser amor, de que será um recomeço, de que realmente terá um recomeço. Precisava de promessas. Promessas que o fantasma sumiria, que o passado seria morto e enterrado. Promessas que o tempo passaria rápido, que a dor sumiria. Queria promessas pra construir esperanças sobre coisas solidas. As promessas não vieram, não havia lugar pra elas. 
Que bagunça em? Como o vento forte de fim de tarde de chuva, aquele vento que vira o guarda-chuva do avesso e te da um banho que te gela todos os ossos. E você chega em casa preocupado com o resfriado que vai pegar. Mas aí entra no banho quente e esquece todos os problemas do dia, todas as frustrações da alma e todas as angustias do coração.

O banho gelado eu já tomei. Confesso que fiquei com febre, gripe das fortes mesmo, me derrubou, abateu e me fez questionar. Mas continuo aqui. Continuo. Não porque você me prometeu um banho quente, pois não houve promessas, mas porque preciso de calor pra me curar. E eu sei que você ainda tem esses calor dentro de si.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A vida não pode ser um contagotas na tua mão

Se está com ele está sozinha
e sozinha não quer mais ficar
se está com ele é porque quer
porque não quer mudar
Diga adeus
diga adeus ou não diga nada
diga adeus
se está chegando o fim da linha
'tá na hora de saltar
se está com ele está sozinha
e sozinha não quer mais ficar

diga adeus
diga adeus ou não diga nada
diga adeus
não vá perder a hora certa com a pessoa errada
diga adeus, !adeus!

Garota, eu tenho um milhão de conselhos pra te dar. Faça assim, faça isso, não faça aquilo jamais. Faça como eu quero, como eu acho melhor, melhor pra mim e pra você, talvez melhor até pra ele. Faça como quiser, faça do teu jeito, como o coração mandar. Só não faça nada, porque nada não vai mudar.
Garota, eu tenho um milhão de coisas pra te implorar. Por favor não vá, não fique, não volte. Por favor não fale, não cale, não chore. Não grite e não sussurre. Não apareça, não se esconda, não me esqueça, não me encontre.
Garota, eu tenho um milhão de coisas pra te desejar. Seja feliz, colha teus frutos, desfrute tua vida, ame, acima de tudo ame. Ame a mim, ame a ele ou ame a outro. Mas acima e sobre todas as outras coisas AME.
E uma última coisa garota. Não faça da vida um conta gotas na tua mão...

Sobre os 30 e sobre ser um 30ntão! (texto escrito em Julho, mas parecer ter sido em outra vida)

Chegou a data, chegou o dia que tenho esperado com uma certa expectativa e uma pequena dose de angústia. Me lembro ainda que aos 15 anos, quando dava os primeiros passos profissionais nessa carreira que escolhi e me escolheu, tinha alguns objetivos, não muito claros, e alguns sonhos, não muito realistas, para serem realizados e cumpridos. Depois de 15 anos nessa "vida de rádio" que me levou a morar em 07 cidades em 03 estados diferentes, ter experiências incríveis, conhecer pessoas fantásticas, posso dizer sem sombras de dúvida que profissionalmente alcancei aquele que era um dos objetivos e também um sonho: Ser um bom comunicador e trabalhar em uma grande rádio. Uma coisa completa a outra. Hoje com 30 anos apresento, há 06 anos, um programa em horário nobre pra 10 emissoras da maior rede de rádios do estado. Isso por si só já é prova de que alcancei o patamar de ser considerado um bom profissional. Mas principalmente eu tenho o orgulho de reconhecer no meu interior todo o esforço, dedicação e abnegação que tive pra chegar até aqui. Eu e mais ninguém sabe os passos que dei para trilhar esse caminho. Essa com certeza é minha maior vitória no âmbito profissional.
Agora aos 30, depois de fazer um longo e detalhado balanço sobre minha trajetória, posso olhar para o passado com olhos de um aluno, aprendendo com os erros, que não foram poucos, mas também com os acertos, que me trouxeram até aqui, pois acredito que não é possível obter exito em algo sem fazer boas escolhas.
Chego aos 30 na melhor fase da minha vida, vivendo já há algum tempo bons momentos, acredito eu que colhendo aquilo que tenho plantado ao longo da vida. Chego aos 30 rodeado por pessoas que gosto, que admiro e que me fazem bem. Colegas de trabalho que se tornaram verdadeiros amigos, amigos que se tornam companheiros, pessoas com quem dividir momentos e histórias só me faz cada vez mais acreditar que tenho acertado toda vez que uso o coração como bússola. Aprendi que acima e sobre tudo, o mais importante na vida de qualquer um são as pessoas que caminham ao seu lado, e posso me orgulhar ao dizer que consigo perceber no olhar e no sorriso de vários amigos a sinceridade e a reciprocidade de um sentimento verdadeiro. Amigos são imprescindíveis para uma vida plena de sorrisos. Tenho muitos e bons amigos.
E que venham novos desafios, novos caminhos, novos horizontes. Que sejam caminhos sempre acompanhados do amor, dos amigos, da família e que os sonhos nunca pareçam distantes demais para que os passos continuem firmes.
Hoje, aos 30, tenho orgulho de quem me tornei. Tenho orgulho de quem eu sou.

...a vida tem um jeito engraçado de ensinar...

Isso tudo é sobre Merecimento e Recompensa. Também é sobre Crime e Castigo.

Eu não precisava. Naquela época era imune. Convivia tão bem com minha liberdade. Eram dias tão legais. Aquele desprendimento todo, dose exagerada de autoconfiança, sorriso com uma dobrinha a mais que quase sugere prepotência. Olhar distante e insolente que sempre obteve exito em afastar. Andava tão bem sozinho que alguém caminhando ao meu lado talvez atrapalhasse o meu passo seguro e cheio de mim mesmo.

Há alguns anos,  em meio a turbulência do termino de um relacionamento de longa data, com lágrimas de dor e raiva nos olhos ouvi as seguintes palavras que me marcaram até hoje. _Você é uma pessoa muito sozinha, tenho pena de ti_. E isso levou a toda aquela atitude prepotente diante da vida e dos outros.

Então o tempo passou. Os meses mudaram de nome e os anos mudaram de números. Então eu mudei, os caminhos mudaram, os passos mudaram junto com os olhares e sorrisos. A vida tinha algo a ensinar e eu algo a aprender.

E ela chegou. E do nada estava ali, diante dos olhos e ao alcance dos braços. A materialização dos sonhos, dos anseios, dos desejos. Os sonhos materializados em sorrisos afetuosos, os anseios em olhares furtivos, os desejos em gestos elegantes.

Ela era meu sonho. Ela era meu desejo. Ela era o meu amor. Ela era o meu destino.

Ela havia chegado com uma missão. A vida a colocou ali com um único objetivo. Ensinar.

Uma lição dura de se aprender, um remédio amargo de engolir. Um antídoto para o lado escuro da alma. Um lembrete ao coração.

Chegou com a missão de ensinar. Partiu logo após cumprir seu papel.

..."uma razão, uma estação, pra toda vida"...

Ela veio por uma razão, ficou menos de uma estação mas me ensinou algo que vai durar pra toda vida.

Há poucos dias, encarando um final catastrófico ouvi algo diferente. _ Lu, você é todo amor_.

Sobre Merecimento e Recompensa. Sobre Crime e Castigo. Sim, eu aprendi a lição.









quinta-feira, 30 de outubro de 2014

..."cantavam seus hinos em casas cheias de risos e luz"...

Ainda ontem uma amiga que surgiu do nada, mas com uma imensa importância nessa minha fase "so down", amiga que tem o incrível dom de alinhar uma palavra atrás da outra e como num passe de mágica ou bruxaria, dar sentido ao mundo, as pequenas coisas práticas do dia a dia e aos grandes mistérios da alma e coração humano, me fez perceber através dum de seus brilhantes textos (já li quase todos os postados no blog dela) que é preciso primeiro permitir que a vida opere seus pequenos milagres.
 _"Se você quer que o “destino” te traga coisas boas, pessoas incríveis e experiências fenomenais, comece cultivando sentimentos bons. Tome decisões que tendem mais para o bem, para o incrível, do que para o mal egoísta. Planeje coisas fenomenais para você, independente do que os invejosos pensam ou falam. No seu caminho, você encontrará um monte de gente buscando as mesmas coisas. E são as pessoas, afinal, que abrem as portas do mundo"._Essas são suas palavras quando ela catedráticamente descreve a sua "Teoria Pessoal do Destino". 

Pois bem, deixemos então que o "destino faça sua parte" enquanto velhas preocupações são substituídas por novos anseios e novas esperanças. 

Encher o coração de bons sentimentos se torna cada dia mais fácil e mais aceitável quando se decide caminhar sem olhar pra trás a todo instante. 

Então você começa a se inspirar naquele filme do Jim Carrey em que ele começa a dizer SIM pra tudo e passa a ter experiências incríveis e malucas todos os dias. Como me disseram dois grandes caras ainda ontem a noite _ "a gente só te mete em evento bom em!"_ Entre goles e risos e palmas batidas com euforia tive que concordar - poxa vida como é bom estar aqui! - E nessa fase de "dizer sim pra vida" já disse alguns outros sins que vão me levar a não sei onde, conhecer não sei quem e fazer não sei o que. Só sei que essa simples palavra, que esse simples "sim" tem me tirado de casa, me tirado de dentro de mim, me tirado do passado e me trazido para um presente mais aprazível e vai me levar para um futuro de coisas boas. 

Optei por muito tempo pelo não, pelo deixo para amanhã ou depois eu vejo.
Agora eu quero SIM e quero AGORA!!!

Ps . Ainda sobre a noite de ontem e sobre as palmas batidas com tanta intensidade e euforia - se algum dia você souber que uns caras chamados de BANDO CELTA estiverem se apresentando perto de vc....não deixe de conferir....uma das experiências mais gostosas e divertidas da minha vida foi ver esses caras se apresentarem....as mãos ainda estão doendo de tando acompanhar o ritmo das músicas com palmas frenéticas....


Antes de alçar voo é preciso baixar a cabeça

Aos poucos se vai trocando a dor pela esperança.

Substituindo o vazio pela fé. 

Deixando que as palavras boas de quem quer ajudar passem sem filtro pelos ouvidos e destruam as barreiras que se ergueram sem querer no coração. 

Por incrível que pareça o coração é mais fácil de "se amaciar". Ele parece se acostumar mais rápido com as mudanças. O coração só quer voltar a conviver com os sonhos. Sem peso.

Leveza é tudo o que pede o coração depois de uma guerra desleal ou uma tempestade inesperada.

É a cabeça o centro de controle das coisas que deveriam partir mas insistem em ficar. Pensamentos pensamentos pensamentos. Por bem ou por mal os pensamentos algumas vezes tem mais poder do que os tão poderosos sentimentos. Um sentimento pode mudar mil pensamentos. Mas um pensamento incessante, aquele que te martela a cabeça por horas e horas ou dias e mais dias é capaz de matar, aniquilar mesmo, toneladas de bons e valorosos sentimentos tão arduamente cultivados e tratados com o mesmo carinho que se alimenta uma criatura indefesa. 

Talvez sejam incontroláveis, cabeça e coração, ou talvez haja domínio sobre eles usando técnicas orientais de meditação e busca da luz. Técnicas que a gente nuca sabe se dão certo ou não, ou dão certo mesmo só pelo fato da gente tentar e as coisas começarem a mudar.

Enquanto não acho um modo de domar meus cavalos selvagens que insistem em pisotear tudo por aqui, vou respirando fundo e usando a fé e uma boa dose de boa vontade para encontrar a mudança que a vida exige.

"já vi o fim do mundo algumas vezes e na manhã seguinte estava tudo bem"


Dias de medo, medo dos dias

Tem dias que a vida da medo. 

Mas é medo mesmo, tipo medo da morte sabe?

Mas é medo da vida. 

Medo de amanhã ser igual a ontem e se repetir o hoje. Medo de acordar, olhar pro teto e não encontrar motivo algum pra sair da cama. Medo de colocar o pé no chão e a perna tremer não por falta de força no corpo mas por puro desânimo mesmo. Medo de se olhar no espelho de novo e ver os mesmos olhos vermelhos e a barba já ha duas semanas pedindo pra ser feita. Medo mesmo de abrir a geladeira e ver que nada ali te abre o apetite e perceber que você está sumindo, os quilos estão indo embora, os risos estão indo embora, os dias estão indo embora. 

Medo de abrir a porta, descer as escadas, ligar o carro, medo de se movimentar, porque se movimentar é sair do lugar e encarar novos fatos e novas realidades, mas como encarar coisas novas quando se sente tão passado. 

Medo de chegar aonde se está indo, de procurar e não encontrar aquele bom dia com o sorriso na voz e a hora certa. Encarar a jornada diária da medo, porque parece não ter fim, parece que o final da tarde não vai chegar. E quando chega da medo de ir embora, de encontrar o apartamento vazio, de reencontrar a vida vazia, medo de ligar o rádio e ouvir uma canção triste, medo de deitar na cama com o sol ainda alto e saber que o sono não é mais seu amigo nem agora nem mais tarde. 

E o medo então de preparar algum prato que sempre adorou e que agora nem lembra mais qual a conexão entre um sabor ou dissabor. Pegar um livro na mão e não conseguir ler por não ter capacidade de se concentrar da medo, dar um play no seriado preferido da medo quando se sabe que nem cinco minutos serão assistidos. 

Da medo quando o relógio já marca mais uma vez duas da manhã e ainda se tem medo de acordar e olhar no espelho e ver os mesmos olhos vermelhos e a barba que já fez aniversário mais uma vez. 

Tem dias que a vida da medo.