terça-feira, 14 de abril de 2015

"Que se perder seja o melhor caminho"

Somos pré-programados para acertar. Desde criança a torcida é pelo acerto, nas brincadeiras, nos jogos, tarefas do colégio e afazeres de casa. Se acertamos, somos recompensados, com sorrisos, boas notas, quem sabe até uma mesada e principalmente, a aprovação dos outros, seja do coleguinha, da professora, dos pais ou até mesmo um sentimento de auto-aprovação. Aí que mora o perigo. Não que isso seja algo ruim, pelo contrário, buscar o acerto é sempre bem vindo, e colher os frutos deste acerto através da aprovação e recompensas nada mais é do que uma certa justiça. O problema é condicionar a felicidade ou realização pessoal ao acerto. Sempre o acerto, sempre a vitória, sempre o sucesso. E então não aprendemos a lidar com a derrota, com o fracasso, com o desacerto e insucesso. Daí surgem grandes males que serão refletidos e ampliados no futuro.

Um jovem adulto que nunca aprendeu com os erros, {e aqui é importante salientar que mesmo errando, e todos erram uma hora ou outra, algumas crianças são tão protegidas e mimadas que quando isso acontece, os pais tomam as dores e negam aos pequenos a chance de tirar uma lição disso}, se torna um ser frustrado diante da realidade que o aguarda fora da sua rede de proteção. Sair de casa, abrir mão da zona de conforto, mudar de cidade, encara um desafio se tornam uma decisão quase impossível pra quem nunca teve a oportunidade de reverter uma situação difícil, pra quem nunca teve uma experiência pessoal de superação. E quando mesmo contra todos esses fatores o jovem decide sair de casa, se vê desprovido de toda e qualquer ferramenta pra lidar com o dia a dia. Seja nos estudos, no trabalho, nos relacionamentos afetivos ou profissionais, todas as dificuldades são novidades, cada empecilho se torna muito maior de que deveria e as decisões erradas, por pura falta de experiência e auto-conhecimento, provocam estragos maiores do que se tivessem acontecido lá na infância, quando os erros não refletem tanto na carreira, na vida pessoal e nem em relacionamentos, podendo colocar ponto final em carreiras promissoras, em futuros casamentos felizes ou ainda em uma vida de paz e harmonia interior. Frustração pessoal é algo que pode incomodar por muitos anos e levar há uma série de erros.

E então se cria um adulto deslocado, um idoso amargo, com um sentimento de que a vida não lhe foi justa, que tudo se perdeu em meio a rotina, que nem o trabalho, nem a família, nem os amigos são capazes de lhe trazer um mínimo de prazer e que a vida não teve nenhuma realização sequer. Há um tempo certo pra tudo, eu acredito nisso, porque alguns ensinamentos, se vierem tarde demais, colocam muita coisa a perder. 

Então aos pais, principalmente os jovens e inexperientes, deixem seus filhos sentirem também o dissabor da derrota e algumas vezes descobrirem por si mesmos as formas de sair desses pequenos deslizes e armadilhas da infância e adolescência. Acreditem, essa base vai fazer toda diferença lá na frente, quando eles tiverem grandes decisões para serem tomadas e toda sabedoria adquirida ao longo do caminho será mais do que necessária. 

Há sim uma hora certa para cometer erros. Ao menos uma hora em que eles não coloquem em risco coisas fundamentais. Acertar é bom e imprescindível pro sucesso. Mas não subestimemos o valor da experiência que só é adquirida através do erro, da nova tentativa e da superação. Que não nos tirem o prazer de descobrir "Que se perder seja o melhor caminho".




segunda-feira, 13 de abril de 2015

"O Melhor de Mim"

Um filme, algumas garrafas de vinho, sushi, sobremesa e um par de grandes olhos negros - se os olhos são as janelas da alma, como dizem, certamente ali habita uma bela alma. Mascotes fofos, carinhosos e bem educados, um sofá aconchegante, um jardim japonês que inspira paz, com sons do campo e aquele barulho de água correndo que te trasporta pra longe. Uma casa, que muito além de ser bonita e belamente decorada com requinte e bom gosto, trás uma sensação de "seja bem vindo" em seus detalhes bem pensados. Livros e dvds evidenciam cultura e apego ao belo. Os bichanos bem cuidados correndo pela casa inspiram carinho e zelo. A paz, a calma e a serenidade nas palavras, gestos e detalhes demonstram auto conhecimento e confiança. As histórias, viagens e livros falam de cultura, prazer pelas descobertas, gosto pela aventura e respeito pelas coisas simples.

Aqueles olhos negros que me lembram, não sei o porque, um leve traço árabe, parecem falar e ouvir. São olhos negros profundos, que espelham uma alma que muito viveu, muito aprendeu e que muito pode ensinar. Outras vidas já viram aqueles olhos. Muitas outras vidas já viveram aqueles profundos olhos. Vidas já viram através daqueles olhos negros. Quando aqueles olhos falam sobre o passado eles brilham, e fascinam e encantam. Quando aqueles olhos ouvem sobre a vida eles parecem absorver tudo, são curiosos, atentos e compreensivos. São olhos diferentes. São olhos que veem e que ouvem...você alguma vez já viu olhos assim? Eu nunca tinha visto. São olhos diferentes. São olhos sábios. Olhos inspiradores.

Uma companhia que inspira paz. Serenidade, leveza. Uma presença que faz sentir bem, sem cobrar nada. Ela está ali e demonstra que está bem com você por perto. E você se sente bem com isso. Não precisa explicação. A simplicidade explica. A sensibilidade, aflorada por sinal, sente, compreende, entende. Acho que aqueles olhos negros que veem e que ouvem fazem ainda mais...eu acho que eles também sentem almas...e como seria diferente o mundo se nossos olhos vissem almas ao invés de corpos?...aqueles olhos veem mais que os meus...veem mais sobre mim do que eu mesmo consigo ver...

Na tela um belo filme, que fala sobre a vida e suas diversas formas de conduzir o amor, ou o amor em suas diversas formas de conduzir a vida. O filme mostrava o que ambos sabíamos; no final só o amor importa; no final só e somente o amor vai fazer sentido.

Ainda e pra finalizar, sobre aqueles belos olhos negros, começo a perceber e me perguntar...será que eles conseguem ver aquilo que eu ainda não vejo...será que eles conseguem ver " O Melhor de Mim"?

..."que teus olhos encontrem outros olhos que encontrem os teus"...
LP.




sábado, 4 de abril de 2015

Abrindo caminhos

Sentado aqui em frente ao teclado e a tela do computador, em meio a leitura de alguns artigos e textos brilhantes que falam de tudo um pouco, sobre dor, amor, felicidade e tristeza, atos de coragem, momentos de bravura em tempos de covardia generalizada, cada palavra que eu leio remete à algo que se passa em minha vida, ou sentimentos recentes ou ainda desejos futuros.

Percebo que o ditado que diz que "nenhum homem é uma ilha" é essencialmente correto mas ao mesmo tempo falho. Quanto mais eu leio e tento aprender sobre o mundo e as pessoas que fazem dele o seu lar, sobre como essas pessoas pensam e agem e principalmente reagem à vida e às pessoas ao seu redor, mais me dou conta de que meus anseios e temores são compartilhados por muitos e mesmo assim meus desejos e medos são tão únicos e tão meus. Sinto que partilho de um grande mal que aflige a todos, recebo o bem que emana de todos, mas ao mesmo tempo me sinto sozinho na missão de dar jeito na vida. Essa é uma batalha que todos encaramos, mas que poucos, ou talvez ninguém, está pronto para ser bem sucedido.

Acabo de ler sobre um indiano que realizou uma façanha que poderia ser facilmente denominada como Hercúlea, mas foi apenas um ato de amor, de coragem, movido por dor e revolta. Um homem simples e sem grandes ambições, deixou um legado através de sua obra que ajudou um número incontável de pessoas. Este velho indiano, depois de uma tragédia pessoal, direcionou sua dor e sofrimento em prol do bem de todos com quem conviveu pela vida toda e por todos que viriam ainda a nascer em seu povoado. Durante 22 anos, ele escavou uma montanha, abrindo 5 kms de rocha, apenas com um cinzel, um martelo, e seu amor incondicional pela obra que estava realizando. Durante 22 anos, esse simples homem cavou diariamente não apenas um caminho mais curto entre seu povoado e a cidade mais próxima,  dando assim acesso à hospitais e escolas e suprimentos, mas ele derrubou dezenas de quilômetros de indiferença, de descaso, de crueldade e desamor. Foi preciso um único homem doar 22 anos de sua vida por uma causa, derramando um sem fim de lágrimas e suor, para que a humanidade tivesse acesso àqueles corações e almas abandonadas. 

Há dias em que me sinto assim. Me sinto um velho escavando uma montanha. Quando penso em todo o esforço que foi preciso pra cada martelada  e quando imagino tudo que ainda será exigido, eu entendo que somente o amor será capaz de transpor essa montanha de medos e mágoas. Minha esperança é que não seja preciso 22 anos de lágrimas e suor para abrir caminho por corações tão duros como as rochas que o velho indiano encontrou na sua longa jornada de amor.

 Dashrath Manjhi, o"louco da montanha"

quarta-feira, 1 de abril de 2015

...há um tempo certo pra tudo...eles dizem..

Com o poder a mim concedido eu voz declaro....sejais livre e fazeis o que bem entender...e pé na estrada, porque como eles dizem "há um tempo certo pra tudo"...só espero que estejam realmente certos...eu confio neles, mesmo sem fazer ideia de quem sejam eles e quais sejam seus planos...não sei se eles querem que eu fique aqui plantado esperando ou se eles esperam que eu saia lá fora e ganhe o mundo e lute pelo que é meu...o problema é que eles não são claros nas suas declarações e confundem a gente aqui embaixo que já está totalmente perdido...pra não ter erro vou fazer um pouco de cada, dia sim dia não eu fico em casa ou saio pra ganhar o mundo, dia sim espero a felicidade bater na minha porta, outro dia saio porta afora e beijo a primeira boca que me mostrar os dentes sem nem mesmo pedir licença, até mesmo porque eles dizem que beijo não se pede beijo se rouba...eles realmente sabem de muita coisa ou sou eu que não sei de nada mesmo....mas eu to aprendendo, até voltei a estudar, mas só voltei porque eles dizem que nunca é tarde demais pra começar, se bem que eu acho que às vezes é tarde sim, tarde pra começar, tarde pra recomeçar e principalmente às vezes é tarde pra voltar atrás...mas como eles dizes esperança é a última que morre, mas mesmo sendo a última a morrer a coitada da esperança também morre, de fome, de sede, de desalento e pasmem, a esperança também morre de desesperança...covardia é matar a esperança...eles dizem que o melhor amigo do homem é o cão, eu já acho que o melhor amigo do homem é o álcool, ao menos é o que me dizes as garrafas de vinho aqui ao meu lado...eles dizem que o mal não compensa, mas pra quem pensa é fácil perceber que compensa sim, tem gente que faz o mal o dia todo e todo dia e tá por aí feliz da vida, rindo, isso pra mim parece uma justa recompensa por fazer o mal, sei lá, como já disse eu não entendo muito as coisas que eles dizem, até mesmo porque sempre pensei fazer o bem e olha aí a maldita confusão que me meti...eles dizem que no final só o amor importa...sobre isso eu sei que eles estão errados, poque já me provaram, tão certo quanto 2 - 2 é igual a nada, que no final qualquer coisa importa, menos o amor...o amor no final só te faz lembrar o que eles falam sobre a morte...eles falam que a morte é a única coisa certa na vida da gente...sobre isso eles estão certos...eu incluiria mais uma coisinha, coisa boba de nada....tão certo quanto a morte é o amor acompanhado da dor...eles nunca me disseram isso...isso eu aprendi sozinho...