sábado, 4 de abril de 2015

Abrindo caminhos

Sentado aqui em frente ao teclado e a tela do computador, em meio a leitura de alguns artigos e textos brilhantes que falam de tudo um pouco, sobre dor, amor, felicidade e tristeza, atos de coragem, momentos de bravura em tempos de covardia generalizada, cada palavra que eu leio remete à algo que se passa em minha vida, ou sentimentos recentes ou ainda desejos futuros.

Percebo que o ditado que diz que "nenhum homem é uma ilha" é essencialmente correto mas ao mesmo tempo falho. Quanto mais eu leio e tento aprender sobre o mundo e as pessoas que fazem dele o seu lar, sobre como essas pessoas pensam e agem e principalmente reagem à vida e às pessoas ao seu redor, mais me dou conta de que meus anseios e temores são compartilhados por muitos e mesmo assim meus desejos e medos são tão únicos e tão meus. Sinto que partilho de um grande mal que aflige a todos, recebo o bem que emana de todos, mas ao mesmo tempo me sinto sozinho na missão de dar jeito na vida. Essa é uma batalha que todos encaramos, mas que poucos, ou talvez ninguém, está pronto para ser bem sucedido.

Acabo de ler sobre um indiano que realizou uma façanha que poderia ser facilmente denominada como Hercúlea, mas foi apenas um ato de amor, de coragem, movido por dor e revolta. Um homem simples e sem grandes ambições, deixou um legado através de sua obra que ajudou um número incontável de pessoas. Este velho indiano, depois de uma tragédia pessoal, direcionou sua dor e sofrimento em prol do bem de todos com quem conviveu pela vida toda e por todos que viriam ainda a nascer em seu povoado. Durante 22 anos, ele escavou uma montanha, abrindo 5 kms de rocha, apenas com um cinzel, um martelo, e seu amor incondicional pela obra que estava realizando. Durante 22 anos, esse simples homem cavou diariamente não apenas um caminho mais curto entre seu povoado e a cidade mais próxima,  dando assim acesso à hospitais e escolas e suprimentos, mas ele derrubou dezenas de quilômetros de indiferença, de descaso, de crueldade e desamor. Foi preciso um único homem doar 22 anos de sua vida por uma causa, derramando um sem fim de lágrimas e suor, para que a humanidade tivesse acesso àqueles corações e almas abandonadas. 

Há dias em que me sinto assim. Me sinto um velho escavando uma montanha. Quando penso em todo o esforço que foi preciso pra cada martelada  e quando imagino tudo que ainda será exigido, eu entendo que somente o amor será capaz de transpor essa montanha de medos e mágoas. Minha esperança é que não seja preciso 22 anos de lágrimas e suor para abrir caminho por corações tão duros como as rochas que o velho indiano encontrou na sua longa jornada de amor.

 Dashrath Manjhi, o"louco da montanha"

Nenhum comentário:

Postar um comentário