quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Dias de medo, medo dos dias

Tem dias que a vida da medo. 

Mas é medo mesmo, tipo medo da morte sabe?

Mas é medo da vida. 

Medo de amanhã ser igual a ontem e se repetir o hoje. Medo de acordar, olhar pro teto e não encontrar motivo algum pra sair da cama. Medo de colocar o pé no chão e a perna tremer não por falta de força no corpo mas por puro desânimo mesmo. Medo de se olhar no espelho de novo e ver os mesmos olhos vermelhos e a barba já ha duas semanas pedindo pra ser feita. Medo mesmo de abrir a geladeira e ver que nada ali te abre o apetite e perceber que você está sumindo, os quilos estão indo embora, os risos estão indo embora, os dias estão indo embora. 

Medo de abrir a porta, descer as escadas, ligar o carro, medo de se movimentar, porque se movimentar é sair do lugar e encarar novos fatos e novas realidades, mas como encarar coisas novas quando se sente tão passado. 

Medo de chegar aonde se está indo, de procurar e não encontrar aquele bom dia com o sorriso na voz e a hora certa. Encarar a jornada diária da medo, porque parece não ter fim, parece que o final da tarde não vai chegar. E quando chega da medo de ir embora, de encontrar o apartamento vazio, de reencontrar a vida vazia, medo de ligar o rádio e ouvir uma canção triste, medo de deitar na cama com o sol ainda alto e saber que o sono não é mais seu amigo nem agora nem mais tarde. 

E o medo então de preparar algum prato que sempre adorou e que agora nem lembra mais qual a conexão entre um sabor ou dissabor. Pegar um livro na mão e não conseguir ler por não ter capacidade de se concentrar da medo, dar um play no seriado preferido da medo quando se sabe que nem cinco minutos serão assistidos. 

Da medo quando o relógio já marca mais uma vez duas da manhã e ainda se tem medo de acordar e olhar no espelho e ver os mesmos olhos vermelhos e a barba que já fez aniversário mais uma vez. 

Tem dias que a vida da medo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário